Vozes
>não me lembro muito bem da data
>mas eu era bem garotinho
>provavelmente na quarta série
>havia uma garota na minha sala
>era bem estranha e por isso excluída e solitária
>vez ou outra a víamos se abaixar e chorar segurando seus ouvidos
>as pessoas riam
>eu não
>aquilo me parecia assustador
>no decorrer do ano me aproximei dela
>nunca tive muitos amigos e não me importava que não gostassem disso
>devo ter ajudado pois as "crises" dela diminuíram
>ela era um garota comum
>gostava de coisas da sua idade e de brincadeiras
>sempre ria quando estava comigo
>os professores e todos que trabalhavam na escola gostaram porquê ela teve uma melhora
>as vezes ela puxava uns assuntos esquisitos
>fantasmas, demônios e tudo mais
>eu gostava, sempre fui curioso quanto a isso mesmo me cagando de medo as vezes
>ela gostava de poder falar disso, parecia tirar um peso das costas
>certa sexta feira ela teve uma "crise"
>estava com ela e vi que àquilo não era drama, tristeza ou qualquer coisa do tipo
>era terror, o mais puro e profundo medo
>quando parou de chorar ela me disse que ouvia coisas, coisas que não estavam lá
>e que não diziam coisas boas pra ela
>a "crise" foi bem feia e os pais dela buscaram ela mais cedo aquele dia
>não usava nada de rede social na época, nem sei se tinha
>e celular era algo de outro mundo, então só tive noticias e vi ela na segunda
>ela estava muito estranha, não quis conversar e nem comentar das vozes de nada comigo
>só segurava os ouvidos e abanava a cabeça em negação
>a todo momento ela fazia isso
>quando deu o sinal do recreio ela foi última a sair e eu fiquei esperando
>mal saia da sala vi que estava chorando e com dois lápis na mão
>olhei tudo aquilo sem entender e vi uma cena que me perturba desde então
>enquanto colocava os lápis nos seus ouvidos dizia
>"as vozes vão parar, elas vão"
>então abriu os braços e deu um tapa em suas orelhas enterrando os lápis tão fundo quanto possível
>caiu de joelhos dando um grito de dor seguido de um sorriso que logo se desfez
>se volta para mim em desespero e diz
>"eu ainda posso ouvir"
>continuou a dizer sem parar enquanto os funcionários vinham desesperados ajudar
>vi os pais dela chegarem e levarem ela embora
>no dia seguinte não foi a aula, nem nos outros dias ao decorrer do ano
>desde então eu nunca mais a vi
>mas me lembro perfeitamente daquele fato
>e de todo seu desespero
>"eu ainda posso ouvir"
>mas eu era bem garotinho
>provavelmente na quarta série
>havia uma garota na minha sala
>era bem estranha e por isso excluída e solitária
>vez ou outra a víamos se abaixar e chorar segurando seus ouvidos
>as pessoas riam
>eu não
>aquilo me parecia assustador
>no decorrer do ano me aproximei dela
>nunca tive muitos amigos e não me importava que não gostassem disso
>devo ter ajudado pois as "crises" dela diminuíram
>ela era um garota comum
>gostava de coisas da sua idade e de brincadeiras
>sempre ria quando estava comigo
>os professores e todos que trabalhavam na escola gostaram porquê ela teve uma melhora
>as vezes ela puxava uns assuntos esquisitos
>fantasmas, demônios e tudo mais
>eu gostava, sempre fui curioso quanto a isso mesmo me cagando de medo as vezes
>ela gostava de poder falar disso, parecia tirar um peso das costas
>certa sexta feira ela teve uma "crise"
>estava com ela e vi que àquilo não era drama, tristeza ou qualquer coisa do tipo
>era terror, o mais puro e profundo medo
>quando parou de chorar ela me disse que ouvia coisas, coisas que não estavam lá
>e que não diziam coisas boas pra ela
>a "crise" foi bem feia e os pais dela buscaram ela mais cedo aquele dia
>não usava nada de rede social na época, nem sei se tinha
>e celular era algo de outro mundo, então só tive noticias e vi ela na segunda
>ela estava muito estranha, não quis conversar e nem comentar das vozes de nada comigo
>só segurava os ouvidos e abanava a cabeça em negação
>a todo momento ela fazia isso
>quando deu o sinal do recreio ela foi última a sair e eu fiquei esperando
>mal saia da sala vi que estava chorando e com dois lápis na mão
>olhei tudo aquilo sem entender e vi uma cena que me perturba desde então
>enquanto colocava os lápis nos seus ouvidos dizia
>"as vozes vão parar, elas vão"
>então abriu os braços e deu um tapa em suas orelhas enterrando os lápis tão fundo quanto possível
>caiu de joelhos dando um grito de dor seguido de um sorriso que logo se desfez
>se volta para mim em desespero e diz
>"eu ainda posso ouvir"
>continuou a dizer sem parar enquanto os funcionários vinham desesperados ajudar
>vi os pais dela chegarem e levarem ela embora
>no dia seguinte não foi a aula, nem nos outros dias ao decorrer do ano
>desde então eu nunca mais a vi
>mas me lembro perfeitamente daquele fato
>e de todo seu desespero
>"eu ainda posso ouvir"
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