GT da Biblioteca

>2017
>prazer, ruan
>não passo de um cara idiota sem destino
>não sou o tipo de cara que recorre a livros quando é necessário fazer um trabalho
>google é meu porte de cada tarefa
>mas minha cidade é o famoso pequeno município que não possui informações nem no wikipedia
>tive que ir à biblioteca
>trabalho de recuperação de história
>progressão e nota vermelha batiam na porta
>peguei minha bike
>aproveitei o turno das 18h00 e fui procurar algum livro que tivesse informações referentes
>não havia ninguém além de universitários nerds que não decidiam entre o livro ou o cigarro
>a bibliotecária não estava lá
>para ter acesso aos livros era preciso um cadastro de estudante
>perguntei a um dos nerds sobre o paradeiro da mulher
>ela estava de férias e deixou uma estagiária para fazer o cadastro
>logo perguntei o paradeiro dela também
>ele disse que ela costumava ficar no andar de cima, enumerando os velhos livros
>mal sabia que aquele lugar tinha dois andares
>as grandes estantes escondiam uma escadinha rodada ao canto esquerdo da grande sala
>subi devagar ouvindo o estralar dos livros se montando um acima do outro
>o assoalho era de madeira e parecia que iria quebrar a qualquer instante
>livros velhos e rasgados
>ela passava uma fita adesiva e colocava uma etiqueta de identificação
>estava escuro
>vi que ela usava um óculos quadrado
>ele vedava a superioridade das bochechas rosadas e destacava as orelhas que mais pareciam de um elfo
>ela puxou a cordinha de luz, isso era moda de qualquer biblioteca
>me silenciei por dez segundos
>observando aqueles belos olhos castanhos e o sorriso mais simpático que havia visto naquele ano
>o cabelo preto e comum deixava aquele já belo rosto ainda mais belo
>ela levantou a cabeça e olhou diretamente para mim como se eu estivesse fazendo um favor à ela
>"oi tudo bem? veio fazer o cadastro?"
>perguntou ela com uma voz aguda e angelical
>tudo que saiu da minha boca foi um sim, fraco e pouco entonado
>impressionava-me uma garota como ela ser uma estagiária de biblioteca
>aquela mina deveria estar nas passarelas ou na minha futura casa me esperando passar do ensino médio
>ela jogou o livro no chão e passou por mim descendo as escadas
>"vem comigo"
>ela ligou um dos computadores e abriu a ficha de inscrição do cadastro
>dei todas as informações necessárias e torci para que ela me desse as dela
>mas tudo que ela foi imprimir e plastificar um cartãozinho
>logo depois depois fechou o sistema e disse "boa sorte, agora você pode levar até 3 livros para ler em casa por um tempo de 25 dias"
>sem palavras, soltei um "aham" e vi ela subindo a escadinha rodada novamente
>meus dezesseis anos cobravam uma masturbação, mas algo não deu certo
>aquela garota era do pior tipo
>não era aquela que você pensava durante a punheta
>era o tipo de garota que eu me sentia em um filme de romance onde qualquer beijo resolveria qualquer problema
>tinha algo diferente nela
>queria saber o nome dela, mas tive medo de perguntar a uns amigos
>vai que eles se interessassem nela
>deixei os livros
>buscaria amanhã para revê-la
>o resto da noite foi ao som de scalene e seafret, imaginando um videoclipe ao lado daquela estagiária
>amanheceu e mal esperei o turno da noite iniciar
>estacionei e travei a bike
>levei um caderno e três canetas
>eu iria pedir ajuda dela com o trabalho
>ela não estava na grande sala
>subi as escadas rodadas e vi ela enfileirando os livros velhos
>"hey, a senhorita poderia me ajudar?"
>perguntei tentando ser um cara culto e adequado à linguagem dos livros
>ela virou o rosto e se aproximou
>"prazer, sou alice"
>ela foi meio brincalhona e logo demostrei um sorriso que deveria manter para não mostrar que estava caídinho de paixão
>me apresentei e ela pediu que eu olhasse para cima
>eu olhei meio confuso e logo vi que no teto havia um pintura clássico
>"ta vendo, esse lugar é especial pra mim", disse ela
>"há detalhes únicos aqui nessa pequena sala, esses livros velhos e essa luz de cordinha que me fazem querer ficar aqui"
>"você precisa fazer dessa biblioteca um lugar único, para ter uma maior consideração e encontrar qualquer livro"
>senti que ela estava me dispensando, mas ao mesmo tempo querendo que eu colaborasse com ela
>mas não neguei, ela estava certa
>aquela biblioteca era bonita, com uma estagiária bonita, que nunca havia visto
>desci as escadas e fui seguindo as placas de indicação e temática
>fiquei duas horas procurando qualquer coisa sobre a cidade e sua história
>nadica de nada
>alice logo desceu e me ajudou a procurar
>aproveitei a presença para ter um diálogo interessante
>descobri que ela era um ano mais velha que eu
>cursava letras
>pretendia desistir da faculdade e ir fazer intercâmbio
>sonhos e sonhos
>ela contava e eu acreditava que ela iria realizar todos
>a demora foi tanta que víamos que a biblioteca já estava vazia
>só nossa voz cortava o silêncio
>das informações úteis passamos para gostos pessoais
>ela adorava capuccino com leite ninho e pão de queijo para acompanhar
>ouvia oasis e amava nietzsche
>jane austen era sua inspiração
>a euforia dela de falar cada coisa me conquistava e fazia meu pescoço amolecer
>cabeça dobrava para o lado observando o sorriso aberto e ouvindo a voz
>acabou que não havia outra estante para procurar
>já eram dez horas da noite
>alice fechou a biblioteca e fomos conversando aos poucos até chegar em sua casa
>ela deu um tchau e um aperto de mãos
>não era o tipo de garota fácil
>no outro dia iríamos procurar novamente
>e foi assim até revirarmos a estante de fantasia, novela, romance é mistério
>três semanas procurando um livro velho da cidade
>eu tinha mais uma para finalizar, mas não ligava mais
>ia apenas para olhar aquela bela moça
>a bibliotecária que qualquer leitor sonhava ter ao lado
>assistimos séries usando o computador de cadastro
>ela me ensinou poesias claras de olavo bilac
>brincamos de fridget spinner até os dedos darem calos
>nenhum beijo havia rolado
>respeitávamos o local um do outro
>eu queria invadir o dela
>mas querer nunca fora poder para minha pessoa
>me sentia inferior a tamanha sabedoria de alice
>ela era o jardim florido
>enquanto eu sempre havia sido o terreno baldio
>e quanto já estávamos terminando a estante de ação e aventura
>passando por cada livro a procura de um só
>respondendo cada pergunta
>trocando olhares um para o outro
>eu passei minhas mãos acima dos contos de mitologia e sentia as dela, macias, acariciarem meus dedos
>eram 22h, ela soltou minhas mãos e me guiou até as portas sem dizer nada
>trancou a biblioteca e me deu beijo enquanto segurava o cadeado
>logo voltou os olhos diretos e seguíamos empurrando um ao outro até sua casa
>eu me sentia como um namorado para alice
>estava me tornando dependente dela
>estava amando leitura
>queria algo sério com ela
>no outro dia, às 18h45
>resolvi atrasar e pegar a cafeteria pouco antes de fechar
>cappuccino com leite ninho
>9 pães de queijo
>tudo em uma pequena cesta de piquenique para lancharmos quando todos os universitários nerds saíssem
>montei na bike e abri o sorriso rumo à biblioteca
>felicidade cortada
>a velha bibliotecária estava lá, mal humorada e lendo uma revista de fofocas
>minha decepção aumentou
>"não pode comer aqui", disse ela
>perguntei sobre o paradeiro de alice
>a velha disse que alice iria se mudar para londres
>surgia uma vaga de intercâmbio disponível para ela
>meu coração se partiu em variados pedaços de decepção
>mas lá no fundo, a única coisa que restara era orgulho e admiração por ela
>havia realizado um de seus sonhos
>sentei na mesa de leitura e perdi todas as esperanças ao lado da estagiária que havia me apaixonado
>ela estava livre enquanto eu me prendia ao ensino médio naquela cidade
>passei pela sessão de história e o livro estava lá
>destacado por uma etiqueta verde
>era o livro da história da cidade
>dentro ela havia marcado as partes mais importantes
>e eu amei cada palavra usada por ela em um resumo na folha de rosto
>finalizei o trabalho escrevendo sem parar
>fechei o livro e um bilhete saiu dentre as páginas
>abri cuidadosamente para não rasgar
>parecia mais um origami
>e quando abri o recadinho, era ela
>"querido ruan, continue sendo um leitor, a companhia faz as escolhas valerem a pena, mas só você pode decidir o que vai ler ou ser escrito daqui para frente. beijos, alice"
>faltavam dez minutos para fecharem o local
>me levantei e peguei destino a porta
>então ouço um pequeno ruído vindo da pequena sala do segundo andar
>olho para os lados e não vejo ninguém
>subo as escadinhas rodadas
>olho além da escuridão e vejo alice
>ela insinua com os dedos e pede silêncio
>a luz da sala grande se apaga e ouvimos a tranca das portas
>alice olha para mim e puxa a cordinha da luz
>havia capuccino quente com leite ninho, pães de queijo e velas de cheiro
>mal lanchamos e ela me deu um beijo
>aos poucos fomos nos encostando na estante de livros velhos
>eu tiro sua blusa e sinto seu corpo macio e cheiroso tirar minha roupa de pouco em pouco
>sua calcinha eu optei de tirar com a boca e trazer prazer oral em meio de tanta oralidade presente naquele lugar
>chegamos à ápice por três vezes
>trocando olhares e beijos que ninguém pudera nos impedir ali
>não foi apenas prazer, eu senti paixão
>no final, estávamos deitados olhando para a pintura clássica no teto
>havia detalhes únicos naquela pequena sala, como os livros velhos na estante e a luz de cordinha...
>mas o que realmente fazia daquele lugar especial era a companhia de alguém
>e mesmo que tudo isso acabasse no próximo amanhecer
>a vida havia me dado uma história
>um livro de informações e lembranças
>que me fizeram acreditar que eu posso ser bem mais que um cara idiota sem destino
>alice partiu ainda cedo
>enquanto eu permaneci ali
>lendo, rindo, chorando e buscando o melhor de mim
>vivendo com o doce e amargo abraço da solidão

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