Mente de um assassino

>olá me chamo julio
>estou beirando os noventa anos
>e sei que a qualquer momento descansarei eternamente
>por isso, alguns segredos não posso levar para o túmulo comigo
>preciso dividi-los para que talvez encontre a luz quando deixar este mundo.
>e decidi dividi-lo com você
>hoje tenho uma vida honesta e honrosa
>ninguém imagina o que vivi em minha juventude
>do que fui capaz e do que provavelmente faria de novo se tivesse oportunidade, mesmo sendo errado
>meus filhos e netos se chocariam com a verdade que trago comigo
>mas agora, preciso dividir essa história com alguém
>um pouco por arrependimento e outro tanto por necessidade de não se apagar um grande feito
 >espero que quando eu terminar este relato, eu consiga vê-lo com outros olhos e me arrepender por completo, perder este fundo de admiração pelo passado
>desde criança tive fascínio pela morte
>adorava saber histórias de mortes sangrentas
>por vezes, tirava a vida de pequenos animais pelo simples prazer de vê-lo se desfazendo em minhas mãos
>fui crescendo com este gosto escondido, levando minha vida, ora estudando, ora trabalhando, ora flertando…
>porém, aos 21 anos em uma briga de bar, um sujeito me tirou do sério e o esfaqueei sem o mínimo de pena
>vi seus olhos perdendo o brilho e seu corpo desfalecendo em minha frente
>enquanto sentia uma alegria tão grande que gargalhava
>a consequência deste feito tão satisfatório me levou à prisão
>e ganhei a fama de assassino frio
>ninguém sentia vindo de mim arrependimento pelo que aconteceu
>nem mesmo ao saber que eu tinha filhos pequenos e esposa
>fui encaminhado à cadeia pública raimundo vidal pessoa em manaus/amazonas
>e todos os detentos demonstravam um certo respeito e temor por mim
>o que facilitou muito o meu período de detenção nos anos 50
>naquele prédio sombrio vi o terror de perto
>os longos períodos sem banho de sol
>a comida azeda, as celas superlotadas e fétidas
>levavam os homens dali à loucura
>eu me divertia com os gritos de desespero, com as lágrimas de angústia, com a dor de um arrependimento em vão
>pois ninguém se importava com os presos que ali estavam
>mesmo que se tornassem pessoas melhores.
>este meu cinismo e descaso com a dor do outro me aproximou dos homens fortes da cadeia
>não demorou muito para que eu fosse levado para a cela dos “chefes do pedaço”
>de lá, eles comandavam todos os penalizados, que beiravam uns trezentos homens
>além dos carcereiros que tinham medo de perderem suas famílias
>caso não seguissem as ordens dos cabeças da prisão.
>neste período conheci um companheiro que me ensinou muito sobre o desprezo ao ser humano
>ele não se importava com mais nada
>eu era jovem e me deslumbrava com aquele senhor de uns sessenta anos
>que ostentava as 28 pessoas que levou para ver o além das formas mais cruéis possíveis
>eu passava horas ouvindo-o contar sobre as torturas e as súplicas pré-morte daqueles que aletoriamente ele simplesmente decidia que merecia morrer
>estranhamente, este “mestre do assassinato”
>viu algo neste amador e então uma relação
>que se pode chamar de amizade monstruosa e sombria, surgiu
>passamos dois anos dividindo cela e comandando aquele mausoléu
>até o dia que uma rebelião estourou contra nosso grupo e na confusão
>meu amigo foi morto a pancadas por um grupo de cinquenta homens
>não sobrou corpo para sepultar
>o ódio tomou conta da prisão
>todos nossos parceiros se viraram contra mim e aquela glória acabou
>fui espancado diversas vezes, tiraram aquela comida podre de mim
>e fiquei três meses no castigo da solitária
>após este período de afastamento, algo começou a acontecer
>todas as noites eu sonhava com meu amigo pedindo vingança
>eu era um homem sozinho contra centenas de assassinos, ladrões e estupradores
>eu não poderia lutar assim
>estava em completa desvantagem.
>meu amigo sabia disso
>e começou a me visitar na solitária todos os dias
>conversávamos por horas.
>sim, eu falava com o morto que unia as forças do inferno para vir até mim e me instruir sobre como vencer aqueles homens que o mataram.
>quando fui tirado da solitária e devolvido à cela comum
>nosso plano estava formado
>eu eliminaria um por um daqueles homens com a ajuda das trevas e do maligno
>eu estava dividindo cela com outros 22 homens, cinco deles participaram do massacre
>o primeiro a morrer estava dormindo quando o ataquei
>e não pensem vocês que eudeixaria vestígios para mais condenações
>ele dormia calmamente quando entrei em seus sonhos e o conduzi até que prendesse sua respiração e morresse “naturalmente”
>entretanto, de natural não teve nada, pois ele sentia o desespero da morte e não conseguia acordar
>tentou lutar mentalmente, mas era impossível
>ele sentiu quando não aguentaria mais e seu corpo se entregou à morte
>meu amigo defunto havia me ensinado alguns truques do sobrenatural
>em troca de um pacto, eu poderia assassinar quem eu quisesse apenas pensando um pouco sobre isso
>optei por mortes dolorosas na mente das pessoas
>enquanto seus corpos pareciam passarinhos dormindo tranquilamente.
>em uma semana, os cinco da minha cela estavam mortos
>o que fazia os demais temerem haver uma doença que estava levando misteriosamente os presidiários
>inclusive servindo para esvaziar o espaço
>pois não colocavam outro no lugar para não morrer mais gente
>foi uma excelente estratégia. pouco a pouco aquelas mortes simplórias estavam me entediando
>então, armei algo um pouco mais interessante.
>certa manhã, nos liberaram para o banho de sol e, vi ali
>uma ótima oportunidade de continuar com minha vingança
>um grupo com dezenas de homens, sendo sua grande parte os assassinos do meu amigo e os demais criminosos contra crianças
>estavam reunidos em um canto quando manipulei os pensamentos de todos eles
>em poucos minutos um a um foi se suicidando
>suicídio coletivo com requintes de auto crueldade
>foi muito satisfatório ver aqueles homens enlouquecidos, banhados em sangue e desespero
>com pedaços de pedras e outras armas artesanais criadas para sobreviver na prisão
>sendo usadas contra seus próprios fabricantes
>ninguém compreendia o que acontecia na cadeia de manaus
>não bastava o horror dos crimes e da organização do sistema prisional
>agora o medo era da morte que ali rondava
>em pouco mais de três meses
>todos os assassinos do meu companheiro haviam o encontrado no inferno e entendiam perfeitamente o motivo de sua morte
>infelizmente, peguei gosto pelo meu poder e outros acabaram servindo de entretenimento para meu tempo preso
>ultrapassei meu mestre com louvor
>com pelo menos cem mortes sem nenhum sinal de minhas mãos
>com certeza, o tempo que eu havia ficado apenas matando ratos na cadeia
>fizeram minha vontade de matar crescer ainda mais.
>...
>quando cumpri minha pena
>de alguma forma senti que não deveria fazer mais aquilo
>e nunca mais as sombras da morte me rondaram
>creio que se sentiram satisfeitas com o trabalho feito por mim
>então, retomei meu caminho, casei, tive filhos e netos
>uma vida tranquila e banal
>vez ou outra sinto saudades de sentir a vida do outro sendo usurpada por meus desejos
>entretanto acabo me contendo…
>escrevendo tudo isso, pensei que sentiria arrependimento por vivenciar e causar tanta dor e sofrimento
>mas, o que estou sentindo, na verdade, é uma vontade louca de retomar os meus feitos e ver vidas se desfazendo
>apenas porque eu quero
>pensando bem, isso é possível
>quero entrar nos pensamentos de quem está lendo minhas memórias e causar um estrago
>então, torça para que eu já esteja ao lado daquele que tanto admiro
>para que você não seja mais uma vítima dos meus caprichos
>boa sorte.
Esse Gt conta a historia da mente de um assasino, feito pelo blog MUNDO SOMBRIO.

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